domingo, 14 de agosto de 2016

Pelos palcos da vida

Viver é exercer papéis. Representamos, instintivamente ou não, personagens que nos são destinados. Filho, filha, pai, mão, avô, avó, marido, esposa, prima, sobrinho. Nessa rede familiar, sempre somos alguma coisa de alguém. Não importa como esse roteiro veio parar em nossas mãos: alinhamento dos astros, sorteio entre os deuses, ou quem sabe rola algum tipo de teste lá em outro plano, as alminhas decoram as falas e atuam em uma cena escolhida pelo diretor (Deus???). Quem se sai melhor, desce e vem compor o personagem aqui embaixo.
Nessa grande peça teatral que é a nossa vida, os papeis são dinâmicos, mutáveis, intercambiáveis. Somos filha, mas somos mãe. Somos tio, primo, avô. Assumimos novos personagens, abandonamos alguns. Somos melhores em uns, piores em outros. Descobrimos talentos, colocamo-nos à prova em nossas capacidades.
Às vezes, a vontade é abandonar o palco, tirar o figurino e se esconder na coxia. Mas o espetáculo deve continuar. As cortinas estão levantadas, luzes acesas, e ainda existem muitas falas a serem ditas.
Nessa vida me coube ser filha. e pode apostar, ninguém tomaria de mim o meu papel. Sim, apenas eu poderia ser Marcella Marconi, chuleta de Mauro. Ao longo dos anos, fomos aprendendo, eu e ele, a ser filha e pai. A cobrar, a respeitar, a conhecer. Amar não precisou de nenhum aprendizado. Tenho certeza de que, no momento em que ele me pegou nos braços, mirrada e feiosa, e no instante em que eu me senti segura em sua mão, um laço firme foi atado entre nós. Indissolúvel, esse vínculo assumiu diferentes feições ao longo dos anos.
Da criança inteligente, que não aceitava nada menos do que as melhores notas, os primeiros lugares, me tornei uma mulher que sabe o que quer.
Escolhi meus caminhos e trilhei com passos firmes as estradas que me pertenciam.
Mas apenas há pouco tempo aprendi a pedir ajuda, aceitar que não sou onipotente, que não tenho todas as respostas, todos os saberes, todas as habilidades. E, mais recentemente ainda, aprendi que não sei todas as perguntas. Pior, que nem sempre há perguntas. Fica apenas a interrogação vazia, incrédula, receosa.
Com o passar dos anos, os papeis perdem seu caráter estanque, se misturam, se confundem e nos exigem jogo de cintura, criatividade. improviso. Esqueceu a fala? Vamos de mímica, faz uma dancinha, conta uma piada, o show não pode parar.
Porque as cortinas estão levantadas, as luzes estão acesas em cima de nós, e ainda existem muitos atos a serem encenados nessa grande peça que é a nossa vida.
Obrigada por dividir o palco comigo!