quarta-feira, 24 de julho de 2019




Texto de 23/07/2017
A noite passa devagar, apesar das gargalhadas que a recheiam com a mesma competência que as cebolas caramelizadas e o krem rechearam nossos hambúrgueres. Sim, h
ambúrgueres, como aprendemos há anos na propaganda da rede de fast food do palhaço. Mas aqui o katchup é caseiro, e dessa vez não é de goiabada.
Não são nem 22h, mas a noite foi tão generosa quanto a porção de batata frita de forno que comemos de forma quase instantânea.
Ah, a mesa que parece não caber todo mundo, mas se ajeitar direitinho todo mundo come. E ri. E revela confidências. E troca olhares. E chamados. Tudo normal.
O papo segue firme enquanto brincamos de bobinho e falamos amenidades e abobrinhas com entusiasmo. Polenta. 
Circulamos por todos os assuntos, mas a noite pede leveza. Talvez porque a gente já esteja um pouco cansado de carregar tanta atrocidade no coração. Nossos sorrisos precisam se conectar. E se unem numa vibração que segue o compasso de Kaoma. Por que é que você foi embora sem dizer pelo menos adeus? Rum bum bum bum bum bum bum.
Já vão? Avisem quando chegarem. Voltem sempre. A cama está disponível.

quarta-feira, 10 de julho de 2019


Texto de 10/07/2016
Sempre é tempo de plantar e colher. Tempo de saber que a semente pode vingar ou simplesmente recusar-se a brotar. De ter paciência para esperar a germinação e v
er o caule romper a terra e se revelar.
Plantar é vida. E ensina muito sobre ela. Sobre as consequências de nossas ações. Sobre fazer as coisas acontecerem. Sobre não ter pleno controle sobre tudo. Sobre lidar com adversidades.
Mexer com a terra é mais do que jogar um bando de sementes em um vaso e desejar que nasçam. Porque é preciso humildade para entender que fazemos parte dessa cadeia. Nutrimos as plantas e elas nos nutrem, e não falo apenas em um sentido alimentar. Sim, as plantas interferem em nossas sensações, mudam o aspecto de nosso ambiente, trazem conforto e bem estar. E sim, algumas delas também nos alimentam. E elas se alimentam. Se isso não é um círculo virtuoso, então não sei mais o que é.
Hoje senti que precisava meter a mão na terra. Porque precisava de uma lufada de vida em minha vida; precisava acreditar no nascimento e no renascimento; precisava lembrar que a semente, para brotar, tem de romper a sua casa e superar a terra, que também lhe sustentação e nutrientes, e que lhe lembra de onde ela veio.
Assim somos nós. Nascemos muitas e muitas vezes ao longo de nossa vida. Somos sempre semente, lutando para germinar, crescer, florescer. E dar frutos. Sim, espalhar o bem é uma forma de dar frutos.
É tempo de plantar para semear a existência, de preparar a terra e fazer brotar o amor. Tempo de saber esperar o momento certo para a colheita. E de saber que, se nada nascer, outras sementes virão e renovarão a nossa fé no ciclo perfeito da vida.

terça-feira, 9 de julho de 2019



Texto de 09/07/2017

Eu uso bicicleta com regularidade há quase 4 anos. Pouco tempo, se formos observar pessoas que estão há muito mais tempo no rolê.
Comecei pedalando com as laranjinhas, fazia o percurso da ciclofaixa de lazer, comecei a me aventurar por outras paragens, tomei gosto, fiz viagem, desafio e o escambau.
Por motivos diversos, que não cabem aqui, fui deixando o pedal esportivo, os grupos, a busca por resultados, QOM, Strava etc... Acabei por ficar mais concentrada naquele pedalzin de leve, sem pressão, sem amarras.
Nada contra o pedal esportivo, em grupos etc. Acho ótimo que exista e que existam muitos! Que Salvador tenha tantos grupos quanto reza a lenda urbana sobre as nossas igrejas, uma para cada dia do ano. Esse modelo só não serve mais para mim.
Daí que passei a pedalar mais por deslocamento mesmo. Pequenas idas aqui e ali, passeios eventuais na orla... E então chega o bendito, o abençoado metrô. Glória, glória, aleluia. Depois de um ano me sentindo encastelada, volto a ser livre nos meus deslocamentos.
E vem a realização de um sonho, a minha dobrável, depois de um périplo para a sua saída de Goiás e chegada à Bahia.
Esses meus deslocamentos são curtos, rápidos e combinados com outros modais, como metrô e elevador. Vou ao trabalho, à casa de minha mãe sem depender de táxi ou ônibus para chegar à estação ou da estação para casa.
Onde quero chegar com esse blá blá blá todo? Que usar a bicicleta como meio de transporte é diferente de usar a bicicleta como lazer ou como esporte. Bem diferente. E as pessoas precisam entender isso. E respeitar quem faz isso. Eu não uso capacete para esses deslocamentos. Essa é uma opção. Faço essa escolha com consciência - inclusive política - e ponderação.
NÃO SOU SUICIDA. NÃO SOU INCONSEQUENTE. Exijo respeito com as decisões que tomo sobre a minha vida. 
A gente corre o risco de ser atingido por uma bala perdida e nem por isso recomendo que as pessoas andem com colete à prova de bala. As pessoas podem sofrer um ataque cardíaco e nem por isso mando que carreguem um desfibrilador na bolsa. Meus vizinhos têm grande chance de serem picados por cobras ou escorpiões aqui nas redondezas, mas nem por isso buzino em suas casas para dizer que calcem botas de cano longo.
Eu posso cair da bicicleta? Posso ser derrubada da bike? Sim, posso. Já aconteceu? Até hoje não. Mas eu não acho que o capacete é a minha tábua de salvação e não vou aderir à uma lógica de que a rua é perigosa e que por isso eu preciso me municiar de todos os equipamentos possíveis e imagináveis para me precaver de qualquer risco.
Você usa capacete? Se sente seguro? Se sente bem? Confortável? Ótimo, é a sua escolha. Você nunca vai me ouvir dizer que tire o capacete, que ele é um boné de isopor que não serve para nada.
Então, se eu não te digo para tirar o capacete, por que você se acha no direito de me mandar usar? Por que se acha no dever de, "preocupado" com a minha saúde e a minha integridade física, dizer que faça uso de um equipamento de que deliberadamente escolhi não utilizar? Por que se acha no direito de rogar praga para que eu caia e bata a cabeça apenas para ter a satisfação de abrir a boca e dizer: "viu, eu avisei"?
Como se a culpa fosse minha se eu for atropelada por um carro. Se eu for atingida por uma porta que alguém abriu em olhar. Se eu escorregar por causa de areia na ciclovia. Se eu perder o controle da bicicleta por causa de um defeito no asfalto. Se a minha roda ficar presa numa boca de lobo. Se um ônibus passar muito próximo de mim e me desequilibrar.
É, porque a culpa sempre sera minha. Da vítima. Daquela que escolheu pedalar. E daquela que, ao usar a bicicleta, escolheu lutar por uma cidade mais humana, mais gentil, mais consciente. Mas que não encontra eco naqueles que dividem as ruas comigo. Que preferem fazer prevalecer uma opinião do que juntar forças e combater a verdadeira ameaça.
Uma pena. Juntos seríamos tão fortes...