segunda-feira, 30 de março de 2015

Cânions do São Francisco muito além do óbvio

Viajar para conhecer os Cânions do São Francisco é praticamente uma obrigação. É daquele tipo de viagem que não se pode deixar de fazer. Ainda mais para quem é nordestino. 
Mas existem formas e formas de se cumprir esse roteiro. Algumas informações estão super difundidas na rede. Basta dar uma olhada no Google. Outras nem tanto. É sobre elas que vou falar.
A primeira é: ficar em Canindé do São Francisco não tem a menor graça e não é necessário. É uma cidade super comum, sem nenhum atrativo por si só. A única coisa relevante é que é de um restaurante famosinho de lá que saem os catamarãs para os passeios.
Qual a opção? Ficar em Piranhas. A cidade é super preservada em sua parte tombada, com casinhas coloridas e construções históricas. Existem muitas opções de pousada, muitas além das que estão no Booking.com. Ou seja, vale a pena dar uma boa pesquisada. Sugiro que se pergunte como é o acesso para a pousada, se tem estacionamento e se tem wi-fi. Muitas estão localizadas em morros e somente se chega após encarar uma escadaria ou uma ladeira. Para quem tem criança pequena ou dificuldade de locomoção pode ser um problema. Não custa nada perguntar também se o quarto tem vista para o rio.

Comer em Piranhas é bastante complicado para quem tem alguma restrição, principalmente na baixa temporada e durante a semana. Muitos restaurantes fechados, alguns abrem apenas para almoço e outros apenas para jantar. Não há qualquer lógica. Vários estabelecimentos somente aceitam dinheiro. Ou, se aceitam cartão, a internet pode ter caído e o cartão não passar. Vá prevenido. Há agências da Caixa, Banco do Brasil e Bradesco.
Quanto à comida em si, muita carne do sol, aipim (macaxeira), pirão de leite... Muito peixe frito. Tudo muito gorduroso. Os restaurantes mais famosos são o Flor de Cactus e a Cachaçaria Altemar Dutra. Desconfio que são os mais famosos porque estão sempre abertos. A comida é bem mais ou menos. A Cachaçaria também é pizzaria e sushi bar. O Flor de Cactus tem uma vista maravilhosa, fica ao lado do Mirante Secular. O atendimento, em todos os lugares, deixa a desejar.
A cidade não conta com um lugar legal onde se possa tomar um café da tarde, por exemplo, comer uma tapioca, bolo, cuscuz... 
Os restaurantes que são ponto de partida e de chegada dos catamarãs (Angicos, Eco Parque e Karranca's) também são bem meia boca. Vale apenas pela praticidade. O preço segue essa linha.
Quanto aos passeios, três dias é suficiente para cumprir o roteiro, digamos, obrigatório: os Cânions do Xingó, a grota do Angico, os museus e a Hidrelétrica. Ainda dá para curtir uma prainha na beira do rio, em Piranhas mesmo ou já em Canindé.
O passeio para o Xingó, quando feito por catamarã, tem horário fixo de saída, por conta das excursões que vêm de Aracaju. É super fácil comprar o voucher. 
Prepare-se, no entanto, para 2h de navegação (ida e volta) e apenas 1h nos cânions propriamente dito. Além disso, se for durante o final de semana, feriado ou alta estação, o barco vai lotado. A trilha sonora também é sofrível. Arrocha, sofrência e forrós de procedência duvidosa. 
Uma opção muito interessante é fretar um barquinho. A diferença é bem pouca, com a vantagem de você controlar o horário. Pode sair mais cedo, pegar a piscina do cânion bem mais vazia, fazer suas fotos com tranquilidade e ficar até a hora que cansar. Alguns exigem lotação mínima no barquinho, outros não.

O passeio para a Grota do Angico, que é o local onde Lampião foi morto, também é feito de catamarã, que sai de Piranhas. O barco para no Angicos ou no Eco Parque. A trilha do Angicos tem cerca de 800m. A do Eco Parque é mais longa, 1.600m. Deve-se pagar uma taxa de R$5,00. Os restaurantes tem uma boa estrutura para os visitantes aproveitarem o banho no rio ou para relaxar nas redes, futtons e espreguiçadeiras. Para a trilha, não custa lembrar: tênis é o ideal, chapéu ou boné é fundamental e água e protetor solar são imprescindíveis.  
Também este passeio pode ser feito com a contratação do barquinho, com a vantagem de poder ir direto para o povoado de Entremontes, famoso por seus bordados. Quando se vai de catamarã, tem de dar sorte para que haja um barqueiro disponível no restaurante.

Quanto aos museus, são dois: o Museu do Sertão e o Museu de Arqueologia do Xingó. São pequenos, mas vale a visita. E preciso estar atento aos dias e horários de funcionamento.
O passeio para a Hidrelétrica também é bacana. O guia explica todo o processo de construção e muita coisa do funcionamento atual. Custa R$40,00 por veículo. É recomendado utilizar sapato fechado.
Agora, se você quer algo mais, se quer conhecer algo que está meio fora do circuito e que não é indicado por nenhum guia, eu conto sobre o pulo do gato agora.

O point se chama Eco Fazenda Mundo Novo. Fica a 32km de Canindé e foi cenário da minissérie Amores Roubados. O lugar é cheio de atrações. São sítios arqueológicos, pinturas rupestres, trilha do cangaço, por onde passou Lampião, além de belas formações rochosas e um espetáculo da caatinga.
O local é também um hotel que conta com alguns chalés, cujo número de hóspedes é variável. A diária inclui todas as refeições. Almoçamos por lá e foi a melhor comida da viagem.
O dono, seu Augusto, é uma atração à parte. Ele que conduz os visitantes nas trilhas, explicando sobre as plantas, as rochas e a história do lugar.
Há também um deck para banho no rio e um barco que, adivinhem, pode levar para os passeios no Cânion e na Grota do Angico. 






Espero que meu relato possa ajudar quem vai viajar para esse paraíso incrustado na Caatinga. Deixo aqui alguns contatos que peguei por lá.

Eco Fazenda Mundo Novo
(79) 9804-0673 9606-0609
augusto@ecofazendamundonovo.com.br

Roberto (locação de barco)
(82) 8803-8463

José Carlos Turismo (locação de barco)
(82) 8105-2762
(82) 8728-5158

Nito (locação de barco)
(82) 8881-0125

Guia turístico: Valdivino. Pode-se procurar por ele no Centro de Visitantes da Hidrelétrica ou no Museu do Sertão.

sábado, 21 de março de 2015

O que me move

Às vezes, em alguns de meus muitos momentos de tempestade mental, me questiono como escolho aquelas coisas às quais vou me dedicar. Como decido investir meu tempo e minha energia em algo? Quais as molas que me impulsionam? O que me atiça, o que me motiva?
Para ser bem sincera, não sei. Porque muitas vezes aquilo que me empolga é algo completamente banal para a maioria. Ou o que me revolta, e que me faz tomar uma atitude, fazer algo, tentar alguma coisa, não enseja o mesmo tipo de reação de outras pessoas.
E aí eu concluo que sou uma pessoa deveras estranha. Vim programada com padrões que não correspondem ao standard da sociedade. E isso me faz criar expectativas e sofrer decepções além da conta. Quando me empolgo, mergulho, me jogo, entrego-me. Faço isso de forma natural, espontânea. Mas dificilmente encontro correspondência. O resultado? Quase sempre um cataploft fenomenal.
E aí fica a dúvida existencial: continuo a me deixar tomar por esses arroubos idealistas, ainda que isso signifique tombos pelo caminho? Ou escolho melhor as minhas batalhas para que elas encontrem reflexo nas pessoas que me rodeiam? 
E a maior dúvida de todas: tudo isso faz diferença?

domingo, 1 de março de 2015

Zap Zap: o retrato de nossa sociedade (ou mais um texto de uma chata)

Eu uso Internet há muito tempo. Vivi a fase do VP Telebahia, bate-papo do UOL, Mirc, ICQ, Msn, Orkut... Agora é Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp. Ou Zap Zap para os íntimos.
Cada rede social ou ferramenta de comunicação dessas tinha as suas peculiaridades que as fizeram ser febre em sua época. Se bem que na época do VP a sua característica maior era ser a única. Ou uma das únicas. Enfim. Era raro pra caramba.
Nós dávamos valor ao fato de usar a Internet. Era caro acessá-la. Envolvia altos custos de telefonia e provedor. A manha era usar depois da meia-noite e aos domingos Viva ao pulso único isso ainda existe?.
Com o tempo, foi-se a Internet discada, veio a banda larga e a sua consequente popularização, uma vez que o preço baixou consideravelmente.
Algum tempo depois, começou uma evolução nos aparelhos telefônicos, que passaram a agregar diversas funções. A tendência de diminuição de tamanho reverteu-se e eles aumentaram sensivelmente para dar conta de tantas funcionalidades incorporadas.
Com telas maiores e dispositivos mais rápidos, o uso da Internet nos smartphones sofreu um incremento significativo. Isso sem falar na queda do preço para navegar, uma vez que as operadoras passaram a fazer campanhas agressivas de acesso ilimitado por valores muito baixos.
Essa encheção de linguiça toda foi para falar que hoje gato e cachorro usa Internet. Eu acho isso ótimo. Não imagino a minha vida sem, apesar de conseguir periodicamente me desconectar. E acho que não acessar Internet hoje em dia promove um aprofundamento do abismo entre classes. Informação é poder. Quer dizer, boa informação é poder. Infelizmente nem todo mundo dá valor e sabe usar corretamente esse recurso.
Eu, como falei há alguns dias, já superei quase completamente a fase dos selfies desregrados e do #instafood chatíssimo. Filtro o que leio e o que publico. Checo, confirmo antes de disseminar um fato. Procuro me preservar e evitar exposição desnecessária e sem propósito. Enfim, isso vocês já sabem. 
A questão é que muita gente que começou a usar a Internet atualmente não passou pela sua evolução. Isso significa postar agora coisas que foram enviadas em correntes de email dez anos atrás. Sim, existia uma coisa chamada corrente de email. Esse, no entanto, é o menor de nossos problemas, como vocês poderão constatar mais adiante.
Vou falar especificamente do Whatsapp. Ele é um fenômeno da comunicação rápida e instantânea, uma vez que é acessado pelos smartphones. Permite interação o tempo todo, inclusive com troca de imagens, vídeos, localização...
A criação de grupos atende a finalidades específicas e, às vezes, momentâneas. Temos grupo da família, dos amigos de escola, do baba, do aniversário de fulana, do trabalho...
E se algumas dessas afinidades por vezes fazem com que se reúnam pessoas parecidas, com muitos pontos em comum inclusive os níveis de bom senso,  elas nem sempre são suficientes para que as pessoas ali congregadas sejam minimamente semelhantes.
Daí vemos uma profusão de assuntos sendo discutidos em total dissonância com o tema do grupo, postagem de piadas muitas vezes de cunho racista, homofóbico, machista, além dos boatos, correntes, manifestações políticas desprovidas de profundidade e racionalização. Também não podemos esquecer das mensagens de auto-ajuda, com frases saídas do livro Um pensamento por dia ou de O segredo.
E por fim tem ele, o famigerado  "bom dia". Odiado por 9 entre 10 usuários do Whatsapp, o diabo do bom dia consegue se manter firme e forte mesmo após as mais violentas tentativas de bani-lo do mundo virtual.
As estratégias de silenciar o grupo e não baixar automaticamente as mídias não resolve. Quando acordamos e vamos ler as mensagens, perdemos 10 minutos apenas para ultrapassar o bom dia. Claro que o dia já não vai ser tão bom, afinal, suportamos essa maratona todas as manhãs.
Apesar das tentativas de algum tipo de regulação nos grupos, a falta de noção permanece. O desrespeito ao espaço do outro prevalece, baseado numa suposta liberdade de expressão e direito ao entretenimento. Claro, há também o dever de informação, que faz com que as pessoas compartilhem as piores aberrações sem ao mínimo se dar ao trabalho de fazer uma verificação de 30 segundos. É a famosa "Não sei se é verdade, mas...".
Aí as pessoas vão gerando um tráfego de informações inúteis, ocupando o tempo das pessoas e normalmente fazendo com que o grupo  não atenda à finalidade para a qual foi criado. E nem estou mencionando o desrespeito e disseminação do preconceito ao serem postados conteúdos homofóbicos, racistas e machistas.
Ah! E as mensagens que podem configurar a prática de crime de calúnia, injúria ou difamação? Sim, porque quando você compartilha boatos, a depender de seu conteúdo, isso é crime sim. Então cuidado, viu? Não custa nada das uma "gulgada". É rápido, normalmente você nem precisa clicar no link para obter a informação de que aquilo que ia postar é mentira. 
Temos ainda a afronta, o insulto, o menosprezo pelas crenças, pelas origens, pela religião alheia. Já vi piadas falando de judeus, de macumba, de ebó... Obviamente essas mensagens não são engraçadas. Mas tem quem ria delas. E dentro do tema fé, há mensagens de cunho religioso que devem encher o saco de quem é agnóstico ou ateu. E talvez quem seja de candomblé se sinta incomodado com fotos de Jesus, Maria, José. Quem é evangélico não deve se sentir muito bem com as imagens de santos. Assim, se não é o foco do grupo, se não é um grupo dos frequentadores da missa tal, do terreiro tal, do templo tal, acho que não cabe. Só acho.
Sendo mulher, me sinto pessoalmente atingida por fotos de mulheres em poses sensualizadas, por achar que isso reforça a posição feminina como um objeto sexual. Ou vídeos de flagras de relações sexuais e conteúdos afins. Opa, crime, hein? Da mesma forma, se fosse gay, me sentiria ofendida com piadas homofóbicas. Aliás, não só piadas, mas reprodução de vídeos etc. Crime, lembra? Se sou negra, agridem-me as piadas racistas. Crime mais uma vez. Não cansou ainda não? E você perguntou a todos os participantes do grupo se eles curtem ficar vendo homens e mulheres pelados? Vídeos pornô?
Pessoalmente, sinto raiva ao ver publicações que atentam contra a democracia, a justiça, a liberdade, que reforçam a ideia de """justiça""" com as próprias mãos, de vingança. Tenho pena de quem publica mensagens pedindo para as pessoas terem cuidado com os presos sairão no indulto de Natal, afinal nem sabem a diferença entre indulto e saída temporária, ou que anunciam confisco de poupança, fim do 13° salário, pedem impeachment e nem sabem escrever sem usar o corretor ortográfico, mas não fazem ideia de quem vai para o lugar de Dilma. E os que berram contra o auxílio reclusão??? Aff!!!
Ninguém venha argumentar que as pessoas muitas vezes compartilham sem ler. Aí, além de irresponsável, esse indivíduo é burro. Eu perdoo ignorância, mas burrice não. As pessoas não podem justificar a sua inconsequência pelo fato de não terem lido a informação que divulgaram. 
Esse texto está enorme, do tamanho da minha falta de paciência com alguns grupos de Whatsapp. Tenho saído quando vejo que o desrespeito e o transtorno superam os benefícios da comunicação rápida e do entretenimento. Muitos podem argumentar que eu sou intolerante e que não sei conviver em grupo. Sim, sou 110% intransigente com algumas posturas como racismo, homofobia e machismo acho que isso já ficou claro, né?. E sim, tenho dificuldade de conviver em grupos em que condutas como essas são aceitas e até consideradas engraçadas. Lembrem-se, crianças, nunca é apenas uma piada.
Então, fiquem tranquilos. Nos grupos em que esse conteúdo é permitido e até aplaudido, vocês estão livres da participação da chata aqui.