terça-feira, 27 de agosto de 2019


Texto de 27/08/2019

Compasso de espera. Horas, dias, semanas. Não, não, o tempo insiste em não passar. Ou será que ele está correndo mais rápido do que precisamos - e percebemos? A
 resposta apenas virá mais tarde. Espero que não tarde demais.
Não ter nada para fazer é angustiante. Claustrofóbico. Doloroso. Nos exige paciência, resiliência. É preciso viver. Seguir é preciso. 
Tudo como dantes no quartel de Abrantes. Vamos tocando a nossa existência, rotina, afazeres. Fingimos? Conversamos amenidades, tratamos de pequenos acontecimentos. É, a gente vai levando.
Fazemos prognósticos imaginários. Traçamos ações e reações. Criamos falas para cada situação.
Mas a verdade é que não temos a mínima ideia do que vem por aí. Porque não se parece com nada que já vivemos. E a vivência dos outros nos serve de quase nada.
O tic tac fictício é nosso carrasco e professor. De um jeito ou e outro, nos mantêm acorrentados ao seu passar modorrento. De um lado nos tira o sono, de outros nos ensina que precismos encontrar novos jeitos para sorrir.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019


Texto de 05/08/2018

Eu não sou uma pessoa de muitos amigos. Talvez porque não cultive amizades do jeito certo. Talvez porque meu jeito afaste as pessoas. Pode ser que não seja uma pessoa divertida, legal ou interessante o bastante. Ou talvez porque simplesmente as pessoas não se sintam à vontade de conversar, desabafar, se abrir comigo. Enfim.
E se eu tenho poucos amigos, cada dia tenho menos deles que estão por perto fisicamente. Para sempre, por tempo determinado ou sabe-se lá por quanto tempo
Dizem que amigo é coisa para se guardar. No fim das contas, acho que guardar não é exatamente o que devemos fazer. Amigo é para desfrutar, conviver, aproveitar. Essa sensação que as redes sociais nos dão, de que eles estão sempre por perto, só deveria servir quando os amigos estão de fato longe. Porque, na prática, nós apenas adiamos, enrolamos, vamos marcar, vamos mesmo. E nunca marcamos. "Nossa, quando a gente se encontra, parece que nunca deixou de se ver." "Fulana é daquelas amigas que eu sei que quando precisar posso contar com ela mesmo que a gente fique milênios sem se ver."
Não, gente, não... Por que deixamos tanta distância se criar entre nós? Por que não cultivamos o suficiente as nossas relações? Não há whatsapp que substitua um abraço. Nenhuma chamada em vídeo é igual ao olho no olho. Uma reação "amei" no Facebook não se compara a um colo de verdade. 
Se, de um lado, vejo pessoas que parecem não ligar, por outro lado, vejo amigos e amigas imersos em suas rotinas, problemas e complicações e me pergunto quem sou eu para levar mais questões. Aí engulo meus problemas, me engasgo com minhas dores, sufoco minhas aflições. E acrescento mais alguns metros no espaço que nos separa.
Na prática, o que acontece é que tenho ficado um pouco cansada de cobrar afeto. De tentar me aproximar. De resgatar amizades que foram se esgarçando. Daí penso em deixar pra lá, largar de mão, esperar que quem quiser, que me procure, e se não procurou, é porque não ligava muito. No instante seguinte, me arrependo e penso que devo fazer a minha parte. 
Seguimos entoando, no automático, uma canção que não nos diz nada, simplesmente pela absoluta incapacidade de deixar a roda. Nessa ciranda de cantiga triste, apesar das mãos dadas, giramos giramos e ninguém sai do lugar.