quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

 Palavras na Garupa

Aplicativo para contar passos, marcar pedaladas, controlar a quantidade de copos de água, conversar, pagar contas, ler jornal, fazer compras, denunciar, editar fotos, vídeos, ensinar o caminho, fazer turismo, ouvir música...
Somos medidos, avaliados, monitorados, contados, classificados, julgados o tempo todo. Expomos e somos expostos. Viramos dados, números, meros portadores de características mais ou menos vendáveis, mais ou menos atrativas. Algoritmos controlam o que vemos, manipulam emoções, controlam nosso acesso.
Amizades Bot. Pic Sentimentos. Amor Rate.
Um aplicativo sai do ar e causa mais comoção do que um mar de lama que mata pessoas e arrasta vidas e histórias por entre refugo de minérios. Os incêndios que, ano após ano, acabam com um bioma exclusivamente brasileiro não merecem estampar as primeiras páginas dos sites de notícia. As vidas de Eduardo, Roberto, Carlos Eduardo, Cleiton, Wilton, Wesley [João Pedro Beto, Emily, Rebeca, Miguel, Davi, Edson, Jordan] importam mesmo?
Onde está o aplicativo para medir a nossa humanidade? Qual o ícone do contador de generosidade? Em que exato momento a tela de smartphones e computadores transformou nosso sangue em pedras de gelo?
Há como voltar atrás? Seremos capazes ainda de olhar uns nos olhos dos outros (ainda que por meio de chamadas de vídeos?) Sermos humanos será mais importante do que estarmos conectados? Há algum aplicativa que faça as pessoas estenderem a mão a um igual? E a um diferente? Haverá antivírus contra o egoísmo?
Ou estamos fadados a virar avatares de nós mesmos, emojis expressando emoções que na prática não existem, nos comunicando por meio de memes, gifs e figurinhas, pois sequer sabemos mais articular, por meio de palavras, aquilo que se passa dentro de nós?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

16/12/2017

 Continuo cheia de pendências. Pequenas coisas fora do lugar e que vão me consumindo graça... Um chuveiro que pinga, uma torneira que vaza, uma tomada que falta, um exame que não consigo marcar, uma consulta que perdi o prazo para retornar...

Os provisórios que se tornam definitivos até que a gente nem lembre como era o plano original.
Sonhos empurrados com a barriga. O tempo, aquele que a gente nunca tem, passa rápido quando é para atropelar nossos desejos.
Dias, horas, nossas mãos não são capazes de segurá-los.
Em vez de correr, resto paralisada diante da minha incapacidade de domar o tempo e seus desdobramentos. Apenas observo as poeiras e teias de aranha dominarem minhas vontades, que vão se aninhando em algum lugar do meu peito, ao lado do choro engasgado.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

 A verdade é que não existem coincidências, por mais clichê que isso possa soar. Há propósitos muito bem traçados para aquele encontrão que te fez perder o ônibus. E para aquele dia em que você encontrou uma amiga no lugar mais improvável da face da Terra. Para aquele dinheiro que você achou no chão - ou que deixou cair.

São tantos os exemplos que ficaria até monótono listar todos. O importante é que entendamos de uma vez por todas o recado: a vida é uma teia. Pequenos fios invisíveis nos ligam a coisas, pessoas e acontecimentos. Esses fios se tocam, se entrelaçam e se embolam. Dão-se nós e, na mesma medida, se desembaraçam.
Ficamos iludindo achando que temos alguma ingerência nessa trama. As linhas têm vida própria, nós apenas tecemos. Vá lá, mudamos uma cor ou outra, aplicamos umas miçangas e penduricalhos, mas é só.
Daí pegamos esse pano e fazemos o que bem entendemos com ele. Cortamos, rasgamos, esgarçamos. Tingimos e tentamos mudar a sua cara, sua essência, fazer da chita, seda. Recolhemos seus retalhos e cerzimos junto a outros retalhos e formamos uma colcha, para nos esquentar a alma e acalentar o coração.
E finalmente entendemos o papel de todas aquelas agulhas e alfinetes.
Mas toda essa conversa sobre costuras e coincidências era para falar de palavras.
Porque recentemente chegaram às minhas mãos alguns livros e textos completamente em sintonia com o momento em que estou vivendo.
Alguns foram difíceis de ler, digerir. As palavras me transportaram para uma realidade que me recuso a vivenciar. Porque tenho fé. Porque acredito. Porque existe uma corrente muito poderosa ao nosso redor.
Outras palavras fizeram em mim um ninho e me convidaram a me aconchegar. E eu o fiz. Quase custei a acordar, porque ali estava bom.
Mas elas me cutucaram e disseram que eu precisava ir. Há muito a ser feito e o tempo é aquele que não temos a perder.
Vamos então. Entre palavras e tecidos, dou passos decididos rumo ao desconhecido. O caminho é longo, mas tenho mãos a me amparar e corações vibrando comigo.
Não, não ando só. Nunca andei. E nunca estive em tão boa companhia como estou agora.
Partamos!

domingo, 26 de julho de 2020

O que nos deixam os avós

Texto de 26/07/2016 Lembro do pão com manteiga e açúcar, dos seus cabelos brancos brancos, da cócega nos pés e das tardes infindáveis lendo os capítulos da novela no jornal, fazendo crochê (o que ficou cada vez mais difícil) e assistindo ao programa de Silvio Santos na TV.
Lembro de mim, encarapitada no portão, vendo-o atravessar a rua, dos passeios à chácara, e as infinitas maçãs e peras guardadas na gaveta do quarto no hospital, presentes a cada visita.
Lembro do colo, das canções em italiano e do estado de hipnose em que eu ficava quando, devidamente aninhada na confortável poltrona marrom na salinha, apertava com a ponta de meus dedos a sua veia saltada no rosto, inebriada com o cheiro de cigarro e com os desenhos feitos com a fumaça.
Lembro de um dia chuvoso, a varanda molhada, palavras distantes de uma música surgem na minha lembrança de criança de 04 ou 05 anos.
Às vezes acho que a minha memória se confunde com as informações colhidas aqui e ali. Preencho os vazios com um pouco de minha imaginação? Faço força para lembrar de fatos impossíveis de serem retomados. Me prendo aos fios de minha memória e, com eles, costuro a teia de minha história, tecendo uma trama ora firme, ora esgarçada, mas que serve para me cobrir nos dias e noites sem alento.
Avós são engraçados. Confundem-se no seu papel e, às vezes, são moles como geleia. De vez em quando, querem mostrar autoridade, apesar de nem sempre serem muito eficazes nisso.
A mesma avó que me dava pão com manteiga e açúcar me obrigava a tomar sopa. A outra me regalava com as assassinas balas soft, mas me ensinou a comer alface. Um avô nos dava salada de fruta com vinho, mas, quando brigava, não ficava pedra sobre pedra. Do último, o que primeiro perdi, restam apenas algumas imagens e sons embaçados. Pode ser que ele tenha me ajudado a enrolar o macarrão, limpado meu queixo sujo de molho de tomate, jogado boccia comigo ou até cantado para mim.
O que importa mesmo é que avós são uma bênção. Quem ainda os tem, trate de aproveitar e se munir, o máximo possível, das melhores recordações. São elas que vão ajudar a segurar a onda quando a saudade bater. Porque sim, essa dor virá. A melancolia será insuportável por um tempo. Até o dia em que reviver as histórias faça surgir, das lágrimas, um sorriso.
E para quem já é avô ou avó, sugiro que faça a sua parte para ser inesquecível. Porque não serão os presentes caros, brinquedos de última geração e passeios no shopping que deixarão uma marca no coração de seus netos, mas a presença, os ensinamentos, as lições e as experiências que viveram juntos, mesmo aquelas mais simples e aparentemente insignificantes. A maior herança é ser exemplo e espelho, é fazer seu neto ou neta extrair de si os melhores sentimentos e atitudes.
Deixo aqui a minha singela homenagem a Marcello, Pierina, Celestino e Dalva, de quem carrego nome e história.
"Brilha onde estiver,
faz da lágrima o sangue
que nos deixa de pé"

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Texto de 23/07/2017
A noite passa devagar, apesar das gargalhadas que a recheiam com a mesma competência que as cebolas caramelizadas e o krem rechearam nossos hambúrgueres. Sim, hambúrgueres, como aprendemos há anos na propaganda da rede de fast food do palhaço. Mas aqui o katchup é caseiro, e dessa vez não é de goiabada.
Não são nem 22h, mas a noite foi tão generosa quanto a porção de batata frita de forno que comemos de forma quase instantânea.
Ah, a mesa que parece não caber todo mundo, mas se ajeitar direitinho todo mundo come. E ri. E revela confidências. E troca olhares. E chamados. Tudo normal.
O papo segue firme enquanto brincamos de bobinho e falamos amenidades e abobrinhas com entusiasmo. Polenta.
Circulamos por todos os assuntos, mas a noite pede leveza. Talvez porque a gente já esteja um pouco cansado de carregar tanta atrocidade no coração. Nossos sorrisos precisam se conectar. E se unem numa vibração que segue o compasso de Kaoma. Por que é que você foi embora sem dizer pelo menos adeus? Rum bum bum bum bum bum bum.
Já vão? Avisem quando chegarem. Voltem sempre. A cama está disponível.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

É vida, mas poderia ser...

É a vida, mas poderia se chamar liquidificador. Entramos nela e saímos completamente esmigalhados. Catando os pedacinhos para poder nos recompor.
Nem sei dizer quantas vezes me olhei e nem me reconheci. Procurei meus fragmentos para tentar encontrar aquela que, em essência, sempre fui. Sempre quis ser. Em alguns momentos, achei apenas uma fagulha de mim.
E nesse lampejo, vejo a luz que me proporcionou brilhar. Me volto para quem sempre foi porto e farol. E entendo que, por mais que a vida insista em dividir, uma cola invisível, mas tão forte que se pode pegar com as mãos, invariavelmente vai nos unir.
Nesse balé de partículas, não se sabe quem é uma, quem é outra. Pensamentos que fluem entre mentes conectadas. Sentimentos e quereres que se confundem. Onde eu começo e você termina. Até onde vai o que você me deu?
Daí que já não existem papeis. O colo, antes disponível, hoje é ofertado por quem antes se aconchegava. Palavras duras são ditas por serem aquilo que deve ser ouvido. Não importa de que boca venham. Nos confundimos ao mesmo tempo em que nos afirmamos.
Compartilhamos segredos, amigas e uma força que não sabemos de onde vem. Mas sabemos para onde vai. E vamos. Bruxarias e intuições, aprendemos a nos ouvir, respeitar e acreditar.
Não, você não é minha heroína. Minha guerreira. Minha mulher maravilha. Embora saibamos de todas as guerras e batalhas que travamos todos os dias. Você é mãe, mulher, profissional, cidadã, filha, que se cobra, foi e é cobrada por uma sociedade que nos exige demais, a ponto de nos sugar se a gente permitir. Não sou eu quem vai te atribuir ainda mais esse fardo.
E hoje, além de tudo, é avó. Mãe duas vezes, não é isso? O exercício da maternidade sob outra perspectiva. Certamente a melhor avó que uma neta poderá ter na vida. Que vocês transbordem de felicidade uma ao lado da outra, mesmo que esse ao lado não seja geograficamente tão perto.
E eu? Ah, se eu pudesse ter um, apenas um, desejo realizado nessa vida, seria de compartilhar, nem que fosse apenas um pouquinho, esse brilho, essa luz. É, eu poderia desejar também o seu talento, mas acho que aí só um gênio da lâmpada me concedendo 3 pedidos. E olhe que nem assim acho que dava conta...

terça-feira, 12 de maio de 2020

Tempos áridos

São tempos áridos. Buscamos, ali e aqui, migalhas de esperança para deixar os nossos sonhos de pé.
Despedaçamos relações. Conhecemos pessoas. Desconhecemos outras. Dor. Decepção. Frustração.
Medo do obscuro. E do que já é notório. Um passado que teima em se fazer presente. Um futuro que nos espreita de soslaio.
Fingimos ignorar, mas sabemos o que nos espera. Só temos receio que as cores que tingirão esse cenário sejam ainda mais sombrias do que imaginamos.
E aí nos agarramos a pequenos fragmentos de felicidade. A vida não pode parar. Temos de seguir: firmes, fortes e de mãos dadas. Temos de ser contagiosos. Agregar. Trazer para perto aqueles que estão na mesma sintonia. Chamar quem comunga das mesmas inquietações. A partir daí, ganhar, passo a passo, o nosso território de direitos e garantias.
Não, não, não nos cansaremos. Uns aos outros, nos alimentaremos de nossos anseios, de nossa revolta. Porque a capacidade de nos indignarmos é um de nossos tesouros.
O caminho é longo. Não tem fim. A peleja será uma constante. Deixaremos para as próximas gerações o exemplo de luta, do não se acomodar, do não aceitar.
Porque merecemos mais do que migalhas. Merecemos mais do que restos de direitos, sobras de garantias. Merecemos igualdade, justiça, honestidade. O fim do preconceito, do machismo, do racismo, da homofobia. O fim do abismo social. A extirpação dos currais eleitorais e de um congresso que não representa a nossa sociedade. Respeito aos povos indígenas e quilombolas. A diversidade de crenças e de pensamento. Que nossas crianças sejam ensinadas a pensar e conviver com o diferente. Respeito aos trabalhadores e trabalhadoras e seus direitos duramente conquistados. Preservação de nossas florestas.
Não querem nos dar? Não tem problema, vamos buscar.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Felicidade é dormir de luz apagada

O dia que parecia não chegar jamais finalmente chegou. Depois de 6 meses e 2 dias, estou na minha casa. Não aquela, provisória, mas que durou mais de 2 anos. Ou a outra, que, apesar de não ser mais minha, terá sempre um cantinho para me acolher.
Não, agora é o meu lugar. É a minha história que será escrita aqui. São as minhas referências e a ligação com o meu passado.
Chove agora. Sinal de bom augúrio, não é isso?
O corpo está moído de fazer mudança, carregar caixas. Para que tanta tralha, meu deus? Nem tenho onde guardar tanta coisa. Aliás, não tenho onde guardar nada. Não importa. O que vale é tomar posse.
Ah, falta retocar aquele cantinho... Não me interessa. Ah, o armário atrasou. E daí? Ah, a tinta está de duas cores... É tendência! Ah, o sofá ainda não chegou... Senta no chão!!!!
E se esse dia levou um século para chegar, nem teria amanhecido se não fosse a ajuda de muita, muita gente. Seria muito clichê de minha parte dizer que é nessas horas que a gente sabe com quem pode contar. Mas gente, não foi pouca dedicação aqui não. Muitas horas foram gastas aqui. Porque o serviço foi pesado. Porque eu sou chata. Porque eu já estava com os nervos à flor da pele. Porque a grana era curta. Porque eu sou de humanas. Porque...
Então, eu só posso agradecer àqueles que nunca me faltaram. Cada um me ajudou à sua maneira, e cada um foi imprescindível para que esses cômodos outrora vazios e sem vida virassem o meu lar. Ser eternamente grata é pouco.
E se não deu para fazer uma entrada triunfal, pelo menos hoje dormirei com a luz apagada, coisa que não faço há um bom tempo. Felicidade é (quase) isso.

Com quantas paredes se faz uma casa?


Sobre uma casa. Um lar. Parede, tinta, gesso. Tijolo, piso, rodapé. Amor. Pessoas preenchendo vazios. Que importa se não tenho guarda-roupa? E daí se o sol poente queima meus olhos através da janela sem cortina?
Vejo amigos em cada canto. O tempo todo. Mesmo quando não estão aqui. Porque sempre estão. Nas tardes modorrentas e nas noites divertidas.
E não haveria aqui se não fossem outras tantas pessoas. O teto, as cores, e outros tantos detalhes nada pequenos. Existem apenas porque outras mãos se fizeram presentes. Dia após dia. Mesmo quando eu ameaçava desistir. Quando eu nem mesmo acreditava.
E apesar de tudo, isso fez-se um lar. Um grande coração pulsando e vibrando para nos acolher a todos. Ainda que de forma improvisada, porque um ano depois temos um quarto da bagunça que teima em nos desafiar.
Um ano aqui é uma vitória. É ter conseguido me sentir acolhida entre paredes frias. É tê-las tornado um abraço apertado, um colo macio e um ombro compreensivo.
É saber que, ao menos por ora, este é o meu lugar. E o lugar de quem quiser chegar.
Obrigada.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

06/02 e os clichês

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10 de fevereiro de 2016
somente estas representam o que se passa em nosso coração.
Dia do meu maior orgulho, do meu motivo de preocupação, dia do meu tudo, do meu chão. Meu porto seguro, minha salvação, meu colo.
Dia daquela que está sempre a postos, sempre alerta, sempre atenta. Ela é o próprio presente.
Mesmo quando está emburrada. Mesmo quando não fala o que sente e temos de adivinhar. Mesmo quando faz birra.
Ela é, mais do que um exemplo, um espelho. Dela puxei muito do que sou. Com ela aprendi grandes lições. Por ela tive moldado o meus espírito contestador.
E como dois bicudos não se beijam, tivemos - e temos - nossas rusgas pelos caminhos da vida. Mas muito cedo entendi que tínhamos de usar as nossas semelhanças a nosso favor.
Por mais que eu faça algo por ela, até encarar horas em uma fila sem fim apenas para passar o dia de seu aniversário com ela, nunca será o suficiente nem para demonstrar tudo que sinto, nem para agradecer pela sua entrega e disponibilidade plena para mim e para aqueles que a rodeiam.
E se ela não conseguiu me ensinar a ser arrumada e organizada - sua única falha nesse processo - me mostrou o quanto é importante fazer o bem, ajudar, colocar-se no lugar do outro. Acho que essa lição aprendi direitinho.
Mãe, te amo tanto que chega aperta o peito. Você é um exemplo de mãe, mulher e cidadã e que merece ser reconhecida por sua integridade, comprometimento, dedicação, competência e amor que você coloca em cada detalhe de tudo que faz.
É por isso que fiz uma tatuagem em sua homenagem. Ter São Judas, o seu São Judas tatuado em mim é uma forma de ter você sempre comigo: seu carinho, sua preocupação, sua proteção, suas orações.
Você é uma vencedora. Pode ser que você não tenha acumulado grandes fortunas materiais, nem tenha viajado o mundo... Mas é rica porque é digna, íntegra, ética, e está cercada por pessoas que te amam, te admiram e têm você como exemplo
Festeje a riqueza, sua vida é seu próprio tesouro.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Eu acredito em horóscopo - 17/01/2016


Eu acredito em horóscopo.
Acho que há mais coisas entre o céu e a terra do que julga a minha vã filosofia.
Como duvidar que eu seja de capricórnio com ascendente em (satan)áries?
Depois de ter feito um mapa natal ano passado, e ter ficado profundamente surpresa pelo que li nele, em 2016 resolvi fazer o mapa de retorno solar, por ocasião de meu aniversário. Gostaria de ter uma ideia do que este ano reserva para mim.
Já começo lendo: "esse é um ano crítico". Cataploft!
Como assim, gente? Mais? Então tinha como piorar? Ano de Áries não podia mesmo ser coisa boa.
Sigo. "Você tem uma imagem bem construída do que deseja
ser, de sua posição no mundo e do seu destino profissional, mas ao final desse ano muito disso será modificado". Quebrando alicerces, planos e paradigmas, é isso? Minhas convicções vão abaixo? Eu quero meu chão debaixo de meus pés! Dá para ser ou está difícil?
"Você deve ter especial cuidado esse ano para não se deprimir com possíveis derrotas. Seus sentimentos estarão mais pesados e você pode piorar sua situação quando começar a exigir demais do seu corpo e da sua saúde, sacrificando lazeres e negligenciando descansos e cuidados".
Eu fiz isso durante todo ano de 2015. Exigência em níveis estratosféricos. Cobranças internas. Zero de condescendência comigo mesma. Paguei um preço alto por isso. Devo estar pagando até hoje, aliás.
"Você terá que enfrentar debates acalorados e será perseguida pela sensação de aridez e pobreza de afeto, como se houvesse sempre uma restrição aos prazeres. [...] Você está propensa a ter explosões de temperamento e crises de ciúme, podendo ficar agressiva quando sentir que está sendo injustiçada"
Afeto... Às vezes sou refratária a demonstrações de carinho Talvez porque me sinta frágil demonstrando essa vulnerabilidade. Sou menos forte por isso? Talvez porque tenha de ter plena confiança para admitir que posso me abrir para receber esse sentimento. Por outro lado, sei o quanto isso me falta. Por baixo dessa casca ogra bate um coração. E ele é feito de manteiga derretida, por mais inacreditável que isso pareça.
"Esse é um ano de trabalho a ser feito, mas você não deve perder de vista sua saúde. Cuidado com as questões ósseas, coluna, ansiedade e irritação. Você vai tender a ganhar peso e perder o controle da sua alimentação, (seja por uma tendência ou exagero, ou simplesmente por insatisfação)".
Desde o final de 2015 tenho passado por isso. Exatamente por isso. Meu corpo fala. Sente. Reage. Tenta se proteger de mim, e sofre com a minha dinâmica de vida. 4kg a mais. Dores no joelho e na coluna. Refluxo. Insônia. Isso me fez tomar uma decisão que não posso chamar de radical, mas que de certa forma vai mudar muita coisa em minha rotina. Torço que para o bem.
Eu ainda não sei exatamente como lidar com tudo que eu li. Dá para eu me preparar? Tenho como driblar essas previsões ou elas são determinantes? "Quem sabe faz a hora não espera acontecer?" Ou tudo que eu fizer para fugir inevitavelmente vai me levar a esses acontecimentos?
Eu só digo uma coisa. 2016 já se desenha com cores mais cinzas. Que eu seja capaz de me cercar daquilo que é bom, daquilo que soma, daquilo que vibra, e que possa trazer cores mais alegres e singelas para tingir o meu destino.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Texto de 08/01/2016

Enfim o inferno astral chegou ao seu termo. Em algumas horas começa uma nova revolução solar. 366 (rá, lembrei do ano bissexto!) dias que reservam um sem número de possibilidades. Nesse novo ciclo, nasce um ser singular, pleno de desejos e potencialidades. Nasce uma pessoa disposta a fazer, desfazer e refazer. Olhar com olhos de ver. Ouvir. Sentir. Colocar-se no lugar do outro. Desenvolver empatia. Sororidade. Essa sou eu. Essa renovada eu. Que tanto apanhou em 2015 e tanto aprendeu.
Fico ainda mais velha, mais rabugenta e mais chata. Sim, acreditem, isso é possível. E sim, não me importo. Mentira, mas me importo cada vez menos. Quero me importar menos ainda. Porque essa nova eu é claustrofóbica e não se dá muito bem com caixas, amarras e espaços apertados. Então, não ligo ̶n̶ã̶o̶ ̶q̶u̶e̶r̶o̶ ̶l̶i̶g̶a̶r̶ se as pessoas se importam com as minhas reclamações. Ou se somente me enxergam através disso. Eu tenho de me conscientizar que a mente limitada é a de quem escolheu me ver por suas lentes tacanhas. Se eu não estou ofendendo nem magoando você, então você não tem nada a ver com isso. Que tal perguntar como eu estou ao invés de me condenar ou tentar me definir? Por um ̶2̶0̶1̶5̶ 2016 com mais rotas e menos rótulos.
E só para situar, minhas reclamações não surgem do nada. Eu não sou a chata porque simplesmente nasci para tornar o mundo mais sisudo. De alguma forma, eu escolhi assumir um papel que precisa ser tomado por alguém. E que vários alguéns tomaram para si também, afinal, há trabalho a fazer por toda parte. Alguns o fazem de forma mais suave, outros são ainda mais brutos do que eu. Não se engane: cansa, dá trabalho e desgasta. Às vezes eu exagero? Sim? Passo do ponto? Também. Os transtornos são temporários, mas os benefícios serão permanentes. Brincadeira. Eu tenho me esforçado para ver o mundo com lentes mais coloridas e tolerantes, até mais benevolentes. Paciência. Buda. Entoa um mantra. Respira. Juro. Nem sempre dá, e começo a rosnar no meio do Ommm. Isso decorre da minha personalidade e das escolhas que fiz para mim e de um sangue com baixo ponto de ebulição também. É consequência do que acredito. Dos meus sonhos. Dos meus ideais. Das batalhas que escolhi lutar. E são muitas, mais até do que sou capaz de dar conta. Mas ainda assim eu tento. E não sou nenhuma heroína por isso. Apenas não vim ao mundo a passeio. E olhe que às vezes eu gostaria de apenas flanar por aí...
Sei que o cenário parece meio cinzento, mas não pense você que a coisa só piora com a idade. Somos feito vinho, esqueceu? Ficamos mais do que perfeitos com o tempo ̶e̶u̶ ̶p̶e̶l̶o̶ ̶m̶e̶n̶o̶s̶ ̶e̶s̶t̶o̶u̶ ̶f̶i̶c̶a̶n̶d̶o̶ ̶m̶a̶i̶s̶ ̶s̶a̶b̶o̶r̶o̶s̶a̶,̶ ̶c̶o̶m̶p̶l̶e̶x̶a̶,̶ ̶i̶n̶t̶e̶n̶s̶a̶. Às vezes eu me questiono se de fato me tornei uma pessoa melhor com o passar dos anos. Eu acreditava que sim, mas de quando em vez me ponho em dúvida. O que é ser melhor? É ser socialmente mais aceita? É me enquadrar em um padrão? Falar menos palavrão? Ser fofa? Seguir conceitos e preconceitos? Aceitar que determinadas coisas são assim porque sempre foram assim? Rir de piadas estúpidas no whatsapp? Ignorá-las? Não, para mim não dá. Escolhi o caminho mais difícil e escolheria cem vezes. Aliás continuo escolhendo todos os dias de minha vida. Então, no fim das contas, eu me tornei ou não uma pessoa melhor? Me tornei alguém mais firme de minhas convicções e princípios. Uma pessoa que não aceita preconceitos e repudia quando percebe em si mesma qualquer atitude nesse sentido. Um ser humano menos egoísta ̶o̶ ̶q̶u̶e̶ ̶n̶ã̶o̶ ̶q̶u̶e̶r̶ ̶d̶i̶z̶e̶r̶ ̶q̶u̶e̶ ̶e̶u̶ ̶n̶ã̶o̶ ̶s̶e̶j̶a̶ ̶e̶g̶o̶í̶s̶t̶a̶. Uma cidadã disponível e que busca agir por uma sociedade mais justa e mais humana. Uma mulher que escolheu dar a mão a outras mulheres e aceitar que outras mulheres também me estendam a mão. Uma alma que procura exercer o desapego, ainda que seja taxada de materialista e pouco espiritualizada.
[Eu sou múltipla. Não me rotule, lembra? Das minhas crenças cuido eu. Do que eu acredito, não acredito, passei a acreditar e deixei de acreditar novamente cuido eu. Se faço oferenda, se rezo uma missa, se vejo gente morta ou se abro um livro de física quântica, isso só me diz respeito. Não me julgue, não me enquadre, eu sou muito mais fluida que seus conceitos estanques.]
Então continuamos assim. É para lutar? Vamos em frente. Mas vou com um sorriso no rosto e com o coração leve. Junto de quem vale a pena e de quem queira estar comigo. E que seja divertido esse caminhar, mesmo permeado de percalços. Até porque, pelo que me conste, ninguém nos proibiu de voar. Feliz nascimento para mim.