quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

 Palavras na Garupa

Aplicativo para contar passos, marcar pedaladas, controlar a quantidade de copos de água, conversar, pagar contas, ler jornal, fazer compras, denunciar, editar fotos, vídeos, ensinar o caminho, fazer turismo, ouvir música...
Somos medidos, avaliados, monitorados, contados, classificados, julgados o tempo todo. Expomos e somos expostos. Viramos dados, números, meros portadores de características mais ou menos vendáveis, mais ou menos atrativas. Algoritmos controlam o que vemos, manipulam emoções, controlam nosso acesso.
Amizades Bot. Pic Sentimentos. Amor Rate.
Um aplicativo sai do ar e causa mais comoção do que um mar de lama que mata pessoas e arrasta vidas e histórias por entre refugo de minérios. Os incêndios que, ano após ano, acabam com um bioma exclusivamente brasileiro não merecem estampar as primeiras páginas dos sites de notícia. As vidas de Eduardo, Roberto, Carlos Eduardo, Cleiton, Wilton, Wesley [João Pedro Beto, Emily, Rebeca, Miguel, Davi, Edson, Jordan] importam mesmo?
Onde está o aplicativo para medir a nossa humanidade? Qual o ícone do contador de generosidade? Em que exato momento a tela de smartphones e computadores transformou nosso sangue em pedras de gelo?
Há como voltar atrás? Seremos capazes ainda de olhar uns nos olhos dos outros (ainda que por meio de chamadas de vídeos?) Sermos humanos será mais importante do que estarmos conectados? Há algum aplicativa que faça as pessoas estenderem a mão a um igual? E a um diferente? Haverá antivírus contra o egoísmo?
Ou estamos fadados a virar avatares de nós mesmos, emojis expressando emoções que na prática não existem, nos comunicando por meio de memes, gifs e figurinhas, pois sequer sabemos mais articular, por meio de palavras, aquilo que se passa dentro de nós?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

16/12/2017

 Continuo cheia de pendências. Pequenas coisas fora do lugar e que vão me consumindo graça... Um chuveiro que pinga, uma torneira que vaza, uma tomada que falta, um exame que não consigo marcar, uma consulta que perdi o prazo para retornar...

Os provisórios que se tornam definitivos até que a gente nem lembre como era o plano original.
Sonhos empurrados com a barriga. O tempo, aquele que a gente nunca tem, passa rápido quando é para atropelar nossos desejos.
Dias, horas, nossas mãos não são capazes de segurá-los.
Em vez de correr, resto paralisada diante da minha incapacidade de domar o tempo e seus desdobramentos. Apenas observo as poeiras e teias de aranha dominarem minhas vontades, que vão se aninhando em algum lugar do meu peito, ao lado do choro engasgado.