sábado, 8 de maio de 2021

A palavra perfeita

 Procuro no meu dicionário particular a palavra perfeita. Aquela que seja mais do que si mesma, que transborde simbolismos e significados.

Caminho com os dedos por entre as folhas imaginárias. Paro. Sim, pode ser essa, não, não, falta algo. Mesmo as palavras que só existem para mim não conseguem ser aquilo que busco.
Porque tento encontrar aquela que agregue o olhar de reprovação, mas também de orgulho. Que misture o colo que cura tudo com a zanga passageira. Que traga, em si, a afinidade, a cumplicidade e o pertencimento. Que carregue o cordão umbilical invisível, mas que seja capaz de dar asas.
Que palavra seria capaz de ser tantas, ser múltipla, ser infinita?
E mais. Que reles vocábulo poderia expressar a gratidão em seu sentido mais amplo? E demonstrar que, por mais que eu faça, estarei sempre em débito? Ou que tenho receio de não ser capaz de fazer por alguém tudo que foi - e continua sendo - feito por mim? Que mostre que eu apenas sou a mulher que me tornei porque alguém dedicou uma parte significativa de sua vida para isso?
E eis que meus dedos pousam sobre uma pequena palavra. Ali, meio escondida entre as ofertas de fogão e máquina de lavar roupa; um pouco sufocada pelo cheiro de rosas, abafada por clichês, ligeiramente cansada de fazer o almoço de hoje, porque ninguém que ficar na fila para comer. Não é a palavra perfeita, eu sei, mas provavelmente é a que pode chegar mais perto.
E ela brilha. Apesar de tudo, ela brilha. Sabe que não é perfeita, e, na verdade, nunca tentou ser. Jamais reivindicou a alcunha de palavra guerreira, super-heroína, ou incansável. Já sofreu, chorou e se sentiu impotente. Mas sempre fez tudo com e por amor, de uma maneira que é difícil explicar. Orgulhosa, traz um sorriso de canto de boca, e espera pacientemente o grito que romperá o silêncio para solucionar problemas graves do mundo, de meias perdidas a corações partidos e sonhos despedaçados: MÃÃÃÃÃE!!!