sexta-feira, 3 de abril de 2020

Felicidade é dormir de luz apagada

O dia que parecia não chegar jamais finalmente chegou. Depois de 6 meses e 2 dias, estou na minha casa. Não aquela, provisória, mas que durou mais de 2 anos. Ou a outra, que, apesar de não ser mais minha, terá sempre um cantinho para me acolher.
Não, agora é o meu lugar. É a minha história que será escrita aqui. São as minhas referências e a ligação com o meu passado.
Chove agora. Sinal de bom augúrio, não é isso?
O corpo está moído de fazer mudança, carregar caixas. Para que tanta tralha, meu deus? Nem tenho onde guardar tanta coisa. Aliás, não tenho onde guardar nada. Não importa. O que vale é tomar posse.
Ah, falta retocar aquele cantinho... Não me interessa. Ah, o armário atrasou. E daí? Ah, a tinta está de duas cores... É tendência! Ah, o sofá ainda não chegou... Senta no chão!!!!
E se esse dia levou um século para chegar, nem teria amanhecido se não fosse a ajuda de muita, muita gente. Seria muito clichê de minha parte dizer que é nessas horas que a gente sabe com quem pode contar. Mas gente, não foi pouca dedicação aqui não. Muitas horas foram gastas aqui. Porque o serviço foi pesado. Porque eu sou chata. Porque eu já estava com os nervos à flor da pele. Porque a grana era curta. Porque eu sou de humanas. Porque...
Então, eu só posso agradecer àqueles que nunca me faltaram. Cada um me ajudou à sua maneira, e cada um foi imprescindível para que esses cômodos outrora vazios e sem vida virassem o meu lar. Ser eternamente grata é pouco.
E se não deu para fazer uma entrada triunfal, pelo menos hoje dormirei com a luz apagada, coisa que não faço há um bom tempo. Felicidade é (quase) isso.

Com quantas paredes se faz uma casa?


Sobre uma casa. Um lar. Parede, tinta, gesso. Tijolo, piso, rodapé. Amor. Pessoas preenchendo vazios. Que importa se não tenho guarda-roupa? E daí se o sol poente queima meus olhos através da janela sem cortina?
Vejo amigos em cada canto. O tempo todo. Mesmo quando não estão aqui. Porque sempre estão. Nas tardes modorrentas e nas noites divertidas.
E não haveria aqui se não fossem outras tantas pessoas. O teto, as cores, e outros tantos detalhes nada pequenos. Existem apenas porque outras mãos se fizeram presentes. Dia após dia. Mesmo quando eu ameaçava desistir. Quando eu nem mesmo acreditava.
E apesar de tudo, isso fez-se um lar. Um grande coração pulsando e vibrando para nos acolher a todos. Ainda que de forma improvisada, porque um ano depois temos um quarto da bagunça que teima em nos desafiar.
Um ano aqui é uma vitória. É ter conseguido me sentir acolhida entre paredes frias. É tê-las tornado um abraço apertado, um colo macio e um ombro compreensivo.
É saber que, ao menos por ora, este é o meu lugar. E o lugar de quem quiser chegar.
Obrigada.