sexta-feira, 9 de julho de 2021

Juntos seríamos fortes

 09/07/2017

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Outro textão que eu estava devendo...
Eu uso bicicleta com regularidade há quase 4 anos. Pouco tempo, se formos observar pessoas que estão há muito mais tempo no rolê.
Comecei pedalando com as laranjinhas, fazia o percurso da ciclofaixa de lazer, comecei a me aventurar por outras paragens, tomei gosto, fiz viagem, desafio e o escambau.
Por motivos diversos, que não cabem aqui, fui deixando o pedal esportivo, os grupos, a busca por resultados, QOM, Strava etc... Acabei por ficar mais concentrada naquele pedalzin de leve, sem pressão, sem amarras.
Nada contra o pedal esportivo, em grupos etc. Acho ótimo que exista e que existam muitos! Que Salvador tenha tantos grupos quanto reza a lenda urbana sobre as nossas igrejas, uma para cada dia do ano. Esse modelo só não serve mais para mim.
Daí que passei a pedalar mais por deslocamento mesmo. Pequenas idas aqui e ali, passeios eventuais na orla... E então chega o bendito, o abençoado metrô. Glória, glória, aleluia. Depois de um ano me sentindo encastelada, volto a ser livre nos meus deslocamentos.
E vem a realização de um sonho, a minha dobrável, depois de um périplo para a sua saída de Goiás e chegada à Bahia.
Esses meus deslocamentos são curtos, rápidos e combinados com outros modais, como metrô e elevador. Vou ao trabalho, à casa de minha mãe sem depender de táxi ou ônibus para chegar à estação ou da estação para casa.
Onde quero chegar com esse blá blá blá todo? Que usar a bicicleta como meio de transporte é diferente de usar a bicicleta como lazer ou como esporte. Bem diferente. E as pessoas precisam entender isso. E respeitar quem faz isso. Eu não uso capacete para esses deslocamentos. Essa é uma opção. Faço essa escolha com consciência - inclusive política - e ponderação.
NÃO SOU SUICIDA. NÃO SOU INCONSEQUENTE. Exijo respeito com as decisões que tomo sobre a minha vida.
A gente corre o risco de ser atingido por uma bala perdida e nem por isso recomendo que as pessoas andem com colete à prova de bala. As pessoas podem sofrer um ataque cardíaco e nem por isso mando que carreguem um desfibrilador na bolsa. Meus vizinhos têm grande chance de serem picados por cobras ou escorpiões aqui nas redondezas, mas nem por isso buzino em suas casas para dizer que calcem botas de cano longo.
Eu posso cair da bicicleta? Posso ser derrubada da bike? Sim, posso. Já aconteceu? Até hoje não. Mas eu não acho que o capacete é a minha tábua de salvação e não vou aderir à uma lógica de que a rua é perigosa e que por isso eu preciso me municiar de todos os equipamentos possíveis e imagináveis para me precaver de qualquer risco.
Você usa capacete? Se sente seguro? Se sente bem? Confortável? Ótimo, é a sua escolha. Você nunca vai me ouvir dizer que tire o capacete, que ele é um boné de isopor que não serve para nada.
Então, se eu não te digo para tirar o capacete, por que você se acha no direito de me mandar usar? Por que se acha no dever de, "preocupado" com a minha saúde e a minha integridade física, dizer que faça uso de um equipamento de que deliberadamente escolhi não utilizar? Por que se acha no direito de rogar praga para que eu caia e bata a cabeça apenas para ter a satisfação de abrir a boca e dizer: "viu, eu avisei"?
Como se a culpa fosse minha se eu for atropelada por um carro. Se eu for atingida por uma porta que alguém abriu em olhar. Se eu escorregar por causa de areia na ciclovia. Se eu perder o controle da bicicleta por causa de um defeito no asfalto. Se a minha roda ficar presa numa boca de lobo. Se um ônibus passar muito próximo de mim e me desequilibrar.
É, porque a culpa sempre sera minha. Da vítima. Daquela que escolheu pedalar. E daquela que, ao usar a bicicleta, escolheu lutar por uma cidade mais humana, mais gentil, mais consciente. Mas que não encontra eco naqueles que dividem as ruas comigo. Que preferem fazer prevalecer uma opinião do que juntar forças e combater a verdadeira ameaça.
Uma pena. Juntos seríamos tão fortes...