Eu
às vezes sinto falta do chão. Daqueles bem firmes, que não sacoleje a cada
intempérie da vida. Que não balance quando eu pestaneje. Que seja
suficientemente resistente para que eu possa fincar meus alicerces.
Sinto
falta de luz. De estar tudo às claras, visível, na superfície, bastando que eu
estique a ponta de meus dedos para que possa tocar em todos os fatos,
sentimentos e sensações.
Sinto
falta da brisa, de um vento fresco que traga ares de novidades e que leve
consigo ar pesado que me oprime o peito. Um sopro que bagunce os cabelos, o
vestido, a mesmice.
Sinto
falta de ombros mais fortes que os meus, nos quais eu possa me apoiar e que me
ajudem a suportar o peso do mundo. Daqueles em que eu possa subir e olhar o
mundo mais adiante.
Sinto
falta de colo que me aconchegue e me acolha, onde eu possa simplesmente
acomodar minha cabeça e ganhe, de brinde, um cafuné e a sensação de que ali é
meu lugar.
Sinto
falta de mãos vigorosas nas minhas, que me deem a certeza de que posso fechar
os olhos e me deixar ir, confiando que elas sabem exatamente para onde estão me
conduzindo. Mãos que cumprimentam, que guiam, que apoiam, que acarinham.
Sinto
falta de pés que caminhem comigo, dividindo os estradas, deixando para trás
pegadas de uma história e escolhendo, juntos, novas trajetórias. Pés que optem
por traçar destinos em comum, percorrer as mesmas veredas.
Sinto
falta de olhos que me vejam além do óbvio, além da casca, que compartilhem os
horizontes e que sejam cúmplices nos brilhos que causarem uns aos outros.
Eu
sinto, apenas, sinto, que mais me falta do que me basta. Que são muitos os
buracos. Que as ausências preenchem de forma opressora. Que as fugas apenas
tornam mais presente e perene aquilo que aflige. E que chega um momento em que
as verdades precisam vir à tona para libertar todo o resto, ainda que o preço a
pagar seja alto. Ainda que doa. Ainda que tudo se rasgue, ainda que tudo vire pó.
Mesmo aquilo que, em verdade, nunca existiu.
Pesado. Profundo. Mas se precisar de uma mão amiga ou um ombro, estou aqui para o que der e vier. Mesmo distante. Força. Bj no coração.
ResponderExcluirO hiato da existência humana.
ResponderExcluirO hiato da existência humana.
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