sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sobre caminhos, bagagens e todas as outras coisas

Eu sinto que, de quando em quando, preciso de algo mais do que apenas desacelerar o passo. Por vezes, como agora, sou obrigada a estancar a marcha, recuar, arredar para não cair na cratera que se abre praticamente debaixo de meus pés. Erosão de minhas certezas, as verdades se desmantelam em pó. 
E aí me desfaço de sonhos, deixo algumas vontades pelo chão, abro mão de algum conforto, tudo para poder seguir. Embalo minhas esperanças, encaixoto suspiros, empacoto minhas lágrimas. As alegrias, ah, essas protejo uma por uma em plástico bolha, para não correr o risco de quebrarem no meio do caminho. 
Em um cômodo vazio, agora tão grande, resta apenas a necessidade inabalável de sair do lugar. O eco de meu silêncio relembra que essas paredes não são minhas. Meus quadros deixam marcas encardidas na pintura branca, que não representam nenhuma história. Permanecer é um lamento. Não soma, não agrega. Apenas tira, aos poucos, lasquinhas de minha felicidade, como quem cutuca uma casca de ferida até sangrar.
Mas se o destino é incerto, que meu caminhar seja leve. Passos decididos, mas animados, certos de que precisam continuar o seu percurso, não importa qual.
E o olhar para trás, que seja breve, para que não me pese o coração, já que as bagagens são um fardo suficientemente grande a ser carregado por mãos tão pequenas quanto as minhas.  

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