domingo, 1 de dezembro de 2019

Adeus 2015


Começa dezembro e, com ele, o final de 2015. O ano que não quer acabar. O ano que quer durar uma eternidade, para multiplicar o horror e a barbárie a que fomos submetidos por meses a fio. Tortura mensal. Dia a dia, bombardeio de notícias das mais escabrosas. O EI é aqui?
Aliás, 2015 está se arrastando tanto que parece que nem a eleição de 2014 terminou. Democracia (mais do que nunca) ameaçada. Pobrezinha, tão jovem...
Falando em jovens, os nossos morrem como moscas, unicamente por serem negros. E pobres. Culpados. Mata primeiro, pergunta depois. É a nossa polícia. Para quem precisa...
E as nossas meninas? Violentadas, estupradas, tudo bem rapidinho, claro. Sequestradas aqui, ali, no Piauí ou na Nigéria.
E para proteger essas crianças e adolescentes o que fizemos? Reduzimos a maioridade penal. Porque criança boa é criança presa.
Em 2015, descobrimos que tudo é culpa do PT, que teve a brilhante ideia de inventar a corrupção. E então a classe média, branca, oriunda de escolas particulares, vestiu sua camisa falsificada da seleção brasileira, pegou a panela que até então não sabia onde ficava e foi para a rua cantar o hino, ops, protestar. Não sem antes dar um pulinho no cinema. Pagando meia, é claro.
Os EUA, pasmem, reconhecerem o casamento gay esse ano - coisa que o Brasil já havia feito de hoje.. O mundo se pintou com as cores do arco-íris. Ah, os ianques também fizeram as pazes com Cuba, quem diria?
Descobrimos (ohhh) que de fato o Cantareira estava sem água, mas a Paulista, ah essa sim tinha é muita! Mas, segundo Serra, o que não tinha era gente.
Aliás, coisa linda a Paulista, hein? Aquele mundo de ciclista, criança, adulto, velhinho, patinadores, deboístas fazendo a festa em uma avenida aberta para as pessoas. Pessoas!!!
E por falar em pessoas, 2015 foi o ano das mulheres e suas hashtags, que provocaram uma verdadeira revolução no mundo virtual e real. #meuprimeiroassedio e #meuamigosecreto colocaram as redes sociais em ebulição ao denunciar assédios sofridos por mulheres, muitas vezes quando ainda eram crianças, e entregar aquele cara que posa de defensor da igualdade de gênero, mas tem práticas machistas.
E como falar de 2015 e não falar do Enem, que vai reprovar muito machistinha que acha que a violência contra a mulher não existe, que tem mulher que gosta de apanhar e até merece? Simone de Beauvoir, que já tinha mitado no primeiro dia de prova, soltou gritinhos no túmulo.
Mas 2015, no fim das contas, está sendo um ano de mais perdas do que ganhos. O horror nos tira a paz, aqui ou do outro lado do mundo. Refugiados parecem não ter mais para onde ir. Lixo humano recusado por países que dão causa à guerra da qual fogem. Bombas. Lama. Arrasta e destrói tudo ao seu redor. Rastro de minérios que reforça a postura predatória e irresponsável de empresas e do do nosso país em relação às nossas riquezas e ao nosso povo. O mesmo povo que morre nas encostas quando vem a chuva, que sempre ultrapassa a média prevista para o período. Lama, água, fogo, terra arrasada, Chapada Diamantina em pó e cinzas, fruto de crimes e descaso
E ainda assim o povo tem força para se unir, fazer, ajudar, porque cada dia mais nos descobrimos fortes, valentes, aguerridos. Que o digam os jovens que estão lutando pela educação, pelo direito de estudar de forma digna, pelo direito ao diálogo. Não aceitamos mais qualquer coisa. Não engolimos mais qualquer desculpa.
Os últimos raios de sol de 2015 nos proporcionam um calor morno e confortável que nos dá alento para o que vem. Mas o horizonte está repleto de Cumulus Nimbus, prenúncio de mais tempestades.

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