quarta-feira, 17 de julho de 2013

A nega do leite e o pintinho: uma história da carochinha

Hoje ouvi de colegas que estava falando mais do que a nega do leite. Engraçado. Ouvir essa expressão é algo que faz parte da minha realidade mais remota, de quando ainda era uma criança e formava a imagem da nega maluca carregando leite e nada fazia muito sentido no meu fantástico mundo de Bob. Provavelmente escuto isso desde que comecei a falar, embora não lembre muito bem. 
Desconfio que isso deve ter algo a ver com o fato de terem colocado um pintinho para piar em minha boca, porque eu estava demorando para falar ah se soubessem. Só para esclarecer, trata-se do pinto filho da galinha, ok? Tipo aqueles que ganhávamos nas feiras de animais e misteriosamente não duravam mais de uma semana na casa de ninguém. Pintos de outra natureza não vem ao caso neste momento. Voltei. Bom, pode não ter sido em minha boca que colocaram o diabo do pintinho para piar na minha casa tinha um pintinho, na minha casa tinha um pintinho, o galo cocó, a galinha có, o pintinho piu, o pintinho piu, o pintinho piu. Acho que eu não estava demorando de falar, mas de andar. Vou perguntar a minha mãe e esclarecer qual era a área de minha lerdeza. Enfim. Voltei de novo. O fato é que sempre falei muito, sempre falei alto. Sempre falei demais. Ainda hoje sou assim. Quando percebo, só eu estou falando, quando me dou conta, já interrompi quando pisco o olho, já estou no palco declamando "batatinha quando nasce, esparranja pelo chão". Foco.
Reconheço que ainda preciso aprender a ouvir mais. Muito mais.
Quanto ao palavrório, também já tentei me controlar, tagarelar menos e falar menos palavrão, mas disso já desisti. Fica para a próxima. Encarnação. Percebi que, falando muito, também me exponho muito. Me devasso. Por outro lado, falando tanto, me disfarço. Porque falo também para me esconder. Falo para não ter de me mostrar por inteira. Falar muito é como atuar para quem é tímido. A diferença é que, quem atua, se esconde atrás de um personagem. Eu consigo me ocultar atrás de mim mesma.
Quando eu não consigo nem falar, é porque a situação está gritante, com o perdão do trocadilho. É porque já não consigo me camuflar. É porque a verborragia não seria capaz de criar uma cortina de fumaça e tirar o foco de mim mesma. Então me calo.
Minhas palavras muitas vezes podem incomodar. Mil perdões. Mas é o meu silêncio que me assusta.    

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