domingo, 21 de julho de 2013

Certidão

A partir de hoje, certifico, de forma irrevogável, o início de minha velhice. Sim, saí da fase do "estou ficando velha" para "agora sou uma velha". E não, não foram os três cabelos brancos que encontrei essa semana que me fizeram concluir isso.
Cheguei a esse veredito depois de ontem. Por não tolerar certas coisas. Por achar outras tantas um absurdo sem tamanho.
Vou listar algumas. Quem sabe encontro mais alguns velhos para fazer parte do clube da melhor ??? idade comigo.
Ontem fui a um show. Trata-se de um ambiente coletivo privado, ou seja, um local total ou parcialmente fechado, para a utilização simultânea por várias pessoas, coberto, destinado ao lazer. Isso significa que não se pode fumar lá dentro. Não sou eu quem diz isso. É a lei. Quer os números? Lei 9.294/1996, Lei 7.651/2009, Lei 12.546/2011. Respeitar pra que, né? Eu não me importo de ficar ao lado de alguém fumando, desde que seja por minha livre e espontânea E-S-C-O-L-H-A. Aí a pessoa se coloca de seu lado, fuma um cigarro chinfrim porque na certa não tem nem dinheiro para bancar o próprio vício, e, como se não bastasse soltar suas baforadas como se fosse a última criatura na face da Terra, ainda leva 3h para fumar um cigarro. Algo do tipo: eu nem fumo mesmo, só fico aqui segurando o cigarro para fazer um charme. Tão demodê semi-adolescentes fazendo tipo com cigarro. Se ainda fosse maconha, dava para dizer que resta um traço de transgressão na conduta.
Pula essa parte. Vamos para a cena do casal de semi-adolescentes no cio. Quero dizer que essa expressão semi-adolescentes foi cunhada por mim mesma, quando quero me referir àquela turma de 20, 20 e poucos anos que, dada a infantilidade de suas atitudes, não podem jamais ser chamados de adultos, ainda que legalmente já o sejam.
Bom, você está no show, tentando ver, com certa dificuldade, o artista lá no palco. Apesar de estar no camarote, ainda assim encontra empecilhos para o seu propósito, porque é dotada de certa deficiência vertical. Ok, ninguém tem nada com isso. Aí você encontra um lugarzinho com uma visão entre as duas cabeças que estão bem à sua frente. Com sorte, quando eles não se sacodem muito dançando, você consegue ter a sua visão de relance do palco. Não passam 02 minutos. O casal de semi-adolescentes, muito esperto, claro, também acha perfeito aquele local que você arrumou. E não se importa nem um pouco de se colocar bem à sua frente. Não interessa se a bunda do espécime masculino do casal fica tocando em você. O problema é seu. Mas a questão não é só ele estar tapando por completo a sua visão do show. Lembram que eu falei que era um casal de semi-adolescente no cio? Então. A espécime feminina do casal, a cada 20 segundos, dava as costas para o palco para protagonizar cenas preparatórias para o acasalamento. Gostaria de deixar claro que longe de mim ser uma puritana. Quem não já deu seus amassos por aí? Mas pera lá, tudo tem limite, né? Ainda tinha a curvadinha que o espécime masculino fazia, na certa para encaixar melhor na espécime feminina. Claro que com isso ele encostava a bunda mais em mim. Eu juro que queria ter levado uma caneta na bolsa ontem. O máximo que eu conseguia fazer era empurrar, mas era inócuo, dado o alto grau de hormônios que estavam no ar.
Pulemos para a terceira cena da noite. Quando percebi que do local onde eu estava não ia rolar ver o show, decidi subir para a outra parte do camarote. É claro que os melhores lugares já estavam ocupados, então me coloquei em um espaço de onde pelo menos eu via o palco. Nesse lugar tinha um casal bem espaçoso, já que, onde caberiam 3 pessoas tranquilamente, eles se espalhavam para ficar somente eles. Tudo bem. Aí percebi que o cara era meio sem noção. Gritava como se aquele show fosse a última coisa que ele faria na vida. Interagia com Marcelo Camelo tenho a impressão que a recíproca não era verdadeira. Dizia que o que Camelo tinha feito tinha dado certo, porque aquele era um show para a Concha, mas que estava funcionando ali. Cantava gritando para a sua mulher/namorada/noiva/peguete, que, por sua vez, cantava gritando de volta. Gente, quando eu falo gritando, é gritando mesmo. 
Vou me alongar nesse trecho. Esse casal já estava berrando desde quando chegamos. Assim, o show de Camelo era voz e violão. Voz e violão, ficou claro? Pronto. Os tietes histéricos não paravam de urrar e cantar. Garanto que muitos vão dizer que não ouviram o violino em algumas músicas. Tenho certeza que outros tantos não perceberam vários dos solos incríveis que Marcelo Camelo fez, porque ou estavam cantando as músicas de Los Hermanos, ou estavam pedindo para Los Hermanos voltarem, ou estavam simplesmente cantando, de forma egoísta e emocionada, a SUA música. Pode ser impressão minha, mas ainda que Marcelo Camelo espere que o público em Salvador cante as músicas, imagino que tenha ficado um quê de decepção, por conta das pessoas não terem compreendido o formato do show. Ele deu uma alfinetada, mas é óbvio que as pessoas estão muito preocupadas com seu umbigo para perceberem a necessidade/desejo alheio.
Voltando ao casal, eles não paravam de berrar, tanto as músicas quanto expressões de louvor aos baianos, que estavam fazendo um espetáculo tão lindo na opinião deles, deixo a ressalva. A coisa piorou um pouco quando o cara saiu para ir ao banheiro e eu me coloquei na balaustrada #foiprafeiraperdeuacadeira. Ninguém mandou beber tanta cerveja. Quando ele voltou, percebi que começou a berrar ainda mais, acho que de raiva. Desconfio de uma lesão no meu tímpano. Quando foi a vez de a menina ir ao banheiro, Erico ficou na balaustrada. Cara, aí a coisa piorou muito. Dava para sentir um bafo de cachaça quando ele berrava no meu ouvido. Ele tentava fazer uns vocais, algo meio gutural, imagino que deva ter algo a ver com cólicas intestinais graves. Se eu tivesse um Floratil na bolsa, com certeza ofereceria a ele.
Enfim, o show acabou e eles foram embora. E eu fiquei, com o tímpano estourado e a constatação de que minha terceira idade começou ontem.
Em homenagem à minha rabugice, deixo aqui um trechinho de uma música de Maglore, uma das bandas do show de ontem.

Demodê
Quando eu ficar ranzinza 
e não pude mais reverter
A idade que incomoda
é um demodê, feito pra vender
Vou andar no descompasso
dos cinquenta eu não passo
não vou ter mais sensatez
Maldizer vai virar esporte
vamos desdenhar da sorte
Ganhar mais e mais perder

Nenhum comentário:

Postar um comentário