quinta-feira, 24 de abril de 2014

Quem poderá nos defender

Estou aqui perdendo preciosos minutos de sono para fazer uma pergunta: quem ensina às meninas e às mulheres como lidar com o assédio diário? Já tentei de quase tudo. Ignorar, responder, gritar. Nada, absolutamente nada, parece dar resultado.
Simplesmente continuo me amaldiçoando por dar cartaz ao calor infernal que faz em Salvador e sair de short. Ou por andar de bicicleta sem a minha cycling burka. Ou por usar roupa de academia fora da academia. Ou por ter quadris largos e coxas grossas. Ou simplesmente por ser mulher.
Hoje mesmo fui seguida no mercado, que tal? Um cretino fingia entrar nas mesmas seções que eu para poder ficar olhando para as minhas não tão belas pernas. E olhe que ele estava com o seu filhinho, que provavelmente se tornará um futuro assediador, pois o seu papai estava lhe ensinando muito bem, com os piores exemplos.
Tive vontade de gritar, fazer um escândalo, chamar um segurança. Mas daí eu pensei: vou pagar de louca, neurótica e complexada. E não é sempre que a a gente está nesse espírito.
Outro dia foi um "guardador" aqui da rua. Com ele eu gritei, fiz barraco na porta do restaurante aqui ao lado. Ele argumentou que estava me elogiando e que eu não era ninguém para desrespeitar ele e mandar tomar no cu. Tá, reconheço que errei, porque mandar tomar no cu não deve ser usado como xingamento assim como viado, puta, etc, já discutimos isso outro dia. Infelizmente, o preconceito às vezes fala mais alto, e eu me envergonho por isso
Daí eu volto à questão: o que nós podemos fazer? Minha vontade mesmo é carregar um spray de pimenta, um taser... Porque não vai demorar para eu me colocar numa situação de perigo real. Esse guardador, mesmo, está aqui todos os dias. E aí?? Vou à delegacia denunciá-lo por importunação ofensiva ao pudor art. 61 da Lei de Contravenções Penais? Pode até ser que resolva num caso como esse, que o contraventor é alguém conhecido ou identificável. E quando não é? Quando é o engraçadinho que passa o carro bem devagar para soltar a piadinha? Ou o que tenta te imprensar no muro? Ou o que simplesmente olha de forma tão ofensiva que faz você querer se esconder atrás de qualquer coisa simplesmente para fugir daquela agressão?
Hoje vou colocar a cabeça no travesseiro e, apesar do cansaço, sei que vou demorar a dormir. A impotência me tira o sono, me dá dor de estômago e me faz ter raiva do mundo. Talvez eu seja xiita nesse posicionamento? Talvez. Seria mais fácil se eu fizesse parte da ínfima parcela de mulheres que acha engraçado ou gosta desses "gracejos"? Sem dúvida. Infelizmente, escolhi o caminho mais difícil, que é o da revolta. O pior é nem saber que armas podemos usar.

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