quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A difícil tarefa de ser mulher

Eu nunca me senti discriminada por ser mulher, não no sentido de ter de provar para os outros que sou boa nisso ou aquilo ou que sou tão boa quanto um homem para fazer determinadas coisas. Já passei por situações em que tive de me impor para mecânico ou pedreiro, que achavam que eu não entendia nada do que estava acontecendo, mas acabei por mostrar que não adiantava tentar me enrolar com a rebimboca da parafuseta que comigo não colava.
A situação sobre a qual quero falar é outra. É a dificuldade de ser mulher por ser tratada como um pedaço de carne. É me sentir tolhida na minha feminilidade, porque se eu andar na rua com algo mais provocante do que uma burca estou sujeita, para dizer o mínimo, a palavras desrespeitosas. E olhe que nem faço o tipo gostosona e tal, mas já cheguei à conclusão que, para estar sujeita a essas gracinhas machistas, basta, me desculpem os termos, ter uma xereca no meio das pernas.
Então ficamos assim. Saiu com roupa da academia? Pimba, vai ouvir um gostosa, tesuda ou um outro"uda" qualquer.
Sua roupa é colada? Xiii, aí você vai ouvir não só que é gostosa, mas ainda vai ganhar, de brinde, um "assovio" típico, que indica o quanto você provoca todos os instintos sexuais do galanteador.
A saia é curta e colada? Aí, gata, me desculpe, mas você é puta. E, como puta, está sujeita a todo tipo de gracejos baixos e, não duvide, até a uma apalpada, quem sabe. Afinal, se você está saindo vestida desse jeito, é porque o seu intuito é chamar atenção sim, então não pode reclamar.
Definidos os parâmetros de nossa vestimenta e do tipo de reação que ela pode pode provocar, digo aqui como me sinto quando escuto os "elogios". Aliás, de como sempre me senti, porque afinal, os cretinos não respeitam idade, nada. Sabe aquela "colocou no sol, fez sombra", "jogou na água fez tchibum", é bem por aí.
A minha vontade é voltar e dizer um par de desaforos. É perguntar que ousadia eu dei para o cara olhar minha bunda, minhas coxas, meus peitos. Juro, se eu tivesse uma arma, era capaz de perder a cabeça. Mas Deus, sabendo bem como fez meu temperamento, me botou com 1,53m, que é para, mesmo que eu quisesse, não pudesse nem tentar fazer concurso para polícia.
Outro dia, li um texto em que a autora falava que era estuprada todos os dias, por conta dessas coisas que somos obrigadas a ouvir. Não sei se posso chegar a tanto, mas o sentimento de impotência é tão grande, gera um ódio tão corrosivo, que não posso condenar quem realmente se arrisca e toma atitudes mais drásticas, como tirar satisfação com o imbecil de plantão ou coisa pior.
Enquanto não tenho um surto de raiva, vou fazendo o que posso. Prefiro me arriscar por entre os carros para não passar por um grupo de homens, não ando por lugares em que fique encurralada, evito usar roupas sensuais e provocantes sem estar acompanhada é, às vezes me sinto na Índia ou no Egito... E sonho com o dia em que haja policiais perto quando uma situação dessa acontecer, que é para, pelo menos, tentar dar um susto no assediador. Se bem que eu já ouvi piadinha de policial. E até de um menininho de 03 ou 04 anos, devidamente orientado pelo seu papai. É, acho que vou ter de recorrer às armas.

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